domingo, 22 de outubro de 2017

O Endurecimento de Israel

O Endurecimento de Israel
Romanos 11:25

«Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado.»

Tem havido alguma dificuldade na compreensão deste texto, nomeadamente quanto “à plenitude dos gentios” como quanto ao sentido do “até” que determinará o fim do endurecimento de Israel.

Antes de mais é importante compreender que este capítulo trata do “endurecimento de Israel” e não da sua “plenitude” ou da “plenitude dos gentios”, embora se fale delas.

Tradicionalmente se tem aceite que a “plenitude dos gentios” é o período actual em que os gentios têm o predomínio político e espiritual no mundo. E, de facto isso acontece. Israel, quando rejeitou o domínio de Deus sobre si e confiou na segurança dos impérios do mundo, Deus os abandonou politicamente e saiu de Jerusalém. Como resultado disso Israel foi deportado para a Babilónia e, depois, foi disperso pelas nações do mundo. Com esse acontecimento começou o “tempo dos gentios”, retratado nas visões do profeta Daniel pela visão da estátua (Daniel 2). Esse período terminará no fim da grande tribulação, com a vinda do Senhor, que dará lugar ao tempo do domínio do Senhor (Lucas 21; Apocalipse 11).

No entanto, Israel ainda mantinha o domínio espiritual. Mas, quando rejeitou o arrependimento e rejeitou o enviado de Deus, o Ungido, o Messias, e o crucificou, o Senhor rejeitou temporariamente este povo e suspendeu o seu programa para eles, e introduziu um novo período com a “Economia da sua Graça”. Deus virou-se para os gentios. É a este período que se refere o endurecimento de Israel no texto sagrado supracitado.


O endurecimento de Israel é um endurecimento parcial e temporário. Até que a plenitude dos gentios haja entrado. O que é isso?

“A plenitude dos gentios haja entrado” onde e como?
Alguns, na mesma dificuldade têm dito que a plenitude dos gentios “haja terminado” para dar lugar ao período espiritual de Israel.

Eu creio que os factos expostos estão muito perto da verdade, mas a explicação que é dada ao texto é que não parece clara, nem a base que é feita neste texto para explicar o endurecimento parcial e temporário de Israel.

Este texto só pode ser compreendido na íntegra se for integrado no seu contexto. E, ele fala, primeiramente, de outra “plenitude”:
«E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição, a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!» (Romanos 11:12)

A plenitude que se refere aqui é a plenitude de Israel. E, quando Israel chegar à sua plenitude, ou seja, o número dos remidos for completa – e sê-lo-á com os 144.000 assinalados (Apocalipse 7 e 14), então todo o mundo atingirá a totalidade da bênção: politica, moral, material e espiritual.

Enquadremos o texto de Romanos:
Romanos 9 fala da eleição, da raiz (Abraão), do tronco (os pais/patriarcas) do comportamento dos ramos, conforme descrito nos versículos 3 a 5, do capítulo 9. É uma descrição das origens e do seu comportamento até à “plenitude dos tempos de Israel (Gálatas 4:1-4).
Romanos 10 descreve a situação de Israel após a morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo: Mensagem de salvação baseada na ressurreição de Cristo… O Israel nacional manteve o seu endurecimento e a sua incredulidade.
Romanos 11, descreve como Deus vai retomar o seu programa com Israel: 1. O endurecimento é temporário e em parte (11:25); 2. Israel será retalhado e só ficará o remanescente (9:27-28-29); 3. Há um remanescente que se mantém no período da graça (11:25)

O Senhor vai cumprir a sua palavra mas com cortes, ou seja, de forma mais curta: não com todo o Israel, porque serão cortados, e ficará o remanescente:

Romanos 9:28 - Porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, cabalmente e em breve;
(“Em breve”, Gr. 4932 suntemnw suntemno, cortar em pedaços)

O verso seguinte dá resposta:
29 - «Como Isaías já disse: Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência, ter-nos-íamos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra».

O capítulo 11 de Romanos fala de duas bênçãos de Deus para o mundo: uma com a queda de Israel – este corresponde ao período da graça no qual Deus adia a condenação dos povos; o outro será a elevação de Israel, na qual a bênção será plena. E, se a bênção do mundo pela queda de Israel é muita, quanto mais o será quando for a sua elevação!
Assim, e definindo os tempos e as fronteiras, o endurecimento de Israel, e por isso a sua diminuição, é temporário e parcial até ao tempo em que Deus abençoar o mundo pelo reatamento do Plano de Deus de acordo com o plano profético. Deus sempre quis abençoar o mundo. Procurou fazê-lo, primeiramente, com a descendência de Adão; depois de estes rejeitarem esse plano, Deus optou abençoar o mundo com a descendência de Abração, mas a nação recusou ser esse canal, pois sempre pensou que era superior às outras nações, considerando-as como cachorrinhos. Deus suspendeu ou adiou esse plano com a introdução da ERA da graça. No entanto, depois de terminar o propósito que tem com a Igreja “Corpo de Cristo”, irá reatar o seu plano de abençoar o mundo através de Israel. E, sobre isso disse: “Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Romanos 11).


O ENDURECIMENTO DE ISRAEL:
O Endurecimento de Israel no Tempo Presente: (Romanos 11)
O endurecimento de Israel é um endurecimento parcial e temporário? Como assim?
Alguns ensinadores, no tempo de Paulo, pensavam que a rejeição de Israel era total e definitiva. Como muitos ainda pensam hoje. A grande maioria da cristandade crê que Deus retirou todas as promessas e bênçãos de Israel e as transferiu para a Igreja. E, neste sentido, a Igreja está a substituir Israel. No entanto, Paulo vem esclarecer que nem é total, nem é definitiva. Ainda hoje, Deus tem deixado um resto, segundo a eleição da graça, que os salva e os faz parte integrante do “Corpo de Cristo” (Romanos 11:5), já que este corpo espiritual é composto de judeus e gentios (Efésios 2:11-3:7). O próprio apóstolo Paulo é exemplo disso: é de Israel, descendência de Abraão, e da tribo de Benjamim (Romanos 11:1). Por isso, o endurecimento de Israel não é total, mas parcial. Deus, no tempo presente, ainda tem alguns em Israel que está a salvar. De forma que, este período dispensacional tem servido por Deus para os incitar à emulação e os levar à salvação (v. 11, 14). Os outros, serão endurecidos (v. 7). Ou seja, esta forma de Deus actuar serve para limpar de Israel os incrédulos, fazendo com que esses descrentes se manifestem e sejam endurecidos e cortados da nação. Por isso diz o Apocalipse: «o impio seja mais impio, e o impuro mais impuro…» (22:11) e assim os seus atos confirmarão a sua incredulidade e a justiça de Deus na condenação dos impios (Romanos 3:9-20). Então, quando isso acontecer, Deus cumprirá os seus propósitos previstos na Profecia, com a ascensão de Israel, conforme prometido aos pais (raiz). Não em toda a nação, mas somente nos eleitos, o remanescente: “os eleitos o alcançaram” (v. 7) – tanto os eleitos do tempo da Profecia como os eleitos no tempo do programa do Mistério. Ver, ainda: Romanos 9:6 e 27.

O “endurecimento veio em parte” sobre Israel, também, no sentido que não é definitivo. Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento (v. 29). Deus, vai terminar com o endurecimento de Israel e, quando o fizer, vai reatar o seu plano com Israel e irá abençoar o mundo através daquela nação, conforme está previsto na Profecia. Israel “não vai permanecer na sua incredulidade”, diz o versículo 23, e quando isso acontecer, Deus os tornará a enxertar. Os gentios é que vão cair na incredulidade e não vão permanecer na benignidade de Deus (a graça de Deus: Tito 3:4; Romanos 2:4; 11:22 – mesmas palavras), e serão cortados (v. 22).

Notem: nem todos os judeus foram cortados. O v. 17 diz: “se alguns dos ramos foram cortados”.
Romanos 11:19 - Dirás, pois: Alguns ramos foram quebrados <1575>, para que eu fosse enxertado.
Romanos 11:20 - Bem! Pela sua incredulidade, foram quebrados <1575>; tu, porém, mediante a fé, estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme.

Aqui a palavra é ekklaw – ekklao, Strong 1575,de 1537 e 2806; verbo. 1) romper-se, cortar

Mas, para se referir aos gentios:
Romanos 11:22 - Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado <1581>.
Romanos 11:24 - Pois, se foste cortado <1581> da que, por natureza, era oliveira brava e, contra a natureza, enxertado em boa oliveira, quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira aqueles que são ramos naturais!

E a palavra é outra: É ekkoptw, ekkopto, Strong: 1581 de 1537 e 2875; TDNT-3:857,453; verbo: 1) cortar fora, remover.

Assim, se “alguns foram cortados” quer dizer que Deus sempre deixou um resto, mesmo durante os períodos de crise de Israel. Daí os exemplos que Paulo dá do tempo de Elias (Romanos 11:1-4), para confirmar como “também, neste tempo presente, mantem-se um resto” (v. 5), neste caso, segundo a eleição da graça, pois a eleição da profecia ficou suspensa. Note-se que a eleição da graça é desde antes da fundação do mundo (Romanos 9:23-24, conforme 8:28-30 e Efésios 1:4-5) e a “eleição da profecia” (v.28) é “desde o princípio ou desde a fundação do mundo” (Mateus 25:34; Apocalipse 17:8).


A RIQUEZA DO MUNDO:
Qual é a riqueza do mundo e a riqueza dos gentios pela queda e pela diminuição de Israel? (v. 11) Não são as promessas políticas e materiais de Deus a Abraão, mas as espirituais. Deixemos o texto falar:
1.      A reconciliação do mundo e a possibilidade de ser reconciliado com Deus (11:15, conforme II Coríntios 5:17-6:2);
2.      Que resulta na “vida de entre os mortos” (v. 15), ou seja, o gozo da vida de Deus, pela “salvação dos gentios” (v. 11).
3.      A bondade de Deus (11:22, conforme 2:4 e Tito 3:4), ou seja, desfrutar do período da Graça de Deus, e da paciência de Deus no adiamento dos dias da Sua ira em relação ao mundo que estava eminente se a Profecia continuasse o seu cumprimento em Atos 7 e 8.
4.      A fé (ato de ser salvo sem obras, conforme v. 20 – “estás em pé pela fé”, conforme 9:30), segundo a exemplificação de Romanos 4 – Abraão foi justificado quando creu em Deus antes da circuncisão e antes da instituição da Lei. É este tipo de FÉ que Deus está a usar agora para salvar os gentios: gentios (e, por isso, sem circuncisão) e sem as obras da Lei. Apelo ao V. estudo do tema promessa: é sempre uma referência à VIDA ETERNA, Tito 1:2), na Profecia e no Mistério, cada um com as suas devidas e correspondentes adequações, e nunca a questões secundárias ou suas derivadas.
5.      O Evangelho que nos foi oferecido (v. 28). Como ali diz: “quanto ao Evangelho são inimigos…” E, que “Evangelho?” O Evangelho da graça de Deus. Afinal, o que estava acima de todo este projeto cronológico vinha dar cumprimento a um projeto lógico, determinado antes da fundação do mundo para nossa glória. E, este evangelho é que determina que “Israel” não era “primeiro”, mas “co-igual”… (I Coríntios 12:12-13; Efésios 3:6), e colocou-os em desobediência para que, com todos, usasse de misericórdia” (v. 30-32);
a.       Notem a linguagem: Antes, nós (os gentios) dependíamos dos judeus: eles eram os líderes do mundo e dos gentios: v. 30 – “Assim como vós (gentios) antigamente… (certamente em Babel) fostes desobedientes…” e eles (Israel) foram eleitos em Abraão,
b.      Agora, pela desobediência deles, eles estão a usufruir da misericórdia a nós demonstrada (v. 31) … Este é o Mistério do Evangelho da Graça: concebido desde antes da fundação do mundo… para as gentes… e Israel (alguns, certamente como também será alguns dos gentios) beneficiam desse plano. “Nós”, membros do “corpo de Cristo”, “somos os vasos de misericórdia dantes preparados, ou “pré-preparados” (“pre-???” são termos exclusivamente paulino para se referir à Igreja Corpo de Cristo) para desfrutar da glória de Deus (9:23-24); e, alguns dos judeus que creem também desfruto desta graça, segundo os eleitos da graça.



A PLENITUDE DOS GENTIOS:
«Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado.»

Primeiramente chamo a atenção para o termo “MISTÉRIO” usado pelo Apóstolo. Este termo no vocabulário de Paulo tem sempre a ver como período da formação da Igreja “Corpo de Cristo”. Por isso, este assunto tem a ver, direta ou indiretamente com o período da “Dispensação da Graça”: Assim as 20 ocorrências da palavra: Romanos 1:25; 16:25; I Coríntios 2:7; 4:1, 13:2; 14:2; 15:51; Efésios 1:9; 3:3; 3:4; 3:9; 5:32; 6:19; Colossenses 1:26; 1:27; 2:2; 4:3; II Tessalonicenses 2:7; I a Timóteo 3:9; 3:16.

Assim, termos usados por Paulo nestes capítulos como “os quais somos nós…” (9.23-24), “agora, neste tempo…” (11:5), “apostolo dos gentios… glorificarei o meu ministério…” (11:13-14),

Isto vem na sequência dos termos que Paulo tem vindo a usar neste contexto: “natural oliveira” (v. 24), “naturais” (v. 24), “ramos naturais” (v. 21), ou seja, são os factos cronológicos, históricos e naturais, conforme Deus tinha revelado e naturalmente, viriam a cumprir-se na profecia, no tempo cronológico, programado, nos “tempos e estações”! Mas, em relação à forma e ao conteúdo do plano e programa do MISTÉRIO seria “não cronológico”, não temporal, e “contra a natureza” (v. 24) e, por isso mesmo, um verdadeiro mistério.

Segunda e fundamentalmente, para a compreensão do assunto, precisamos de entender que o capitulo 11 de Romanos fala de Israel e dos Gentios do ponto de vista espiritual e não politicamente. O tropeço de Israel e a sua queda referidos no texto de 11:11-12 não pode ser politico pois eles já tinham caído politicamente na apostasia dos reis de Israel e Judá que os levaram à deportação para a Babilónia. Desse aspeto fala o profeta Daniel: o Mistério do Tempo dos gentios (Daniel 2). Não confundir o “Tempo dos Gentios”, que é um aspeto politico, com a “plenitude dos gentios” que é espiritual. O tempo dos gentios refere-se ao período em que Israel perdeu o seu domínio politico e ficou sujeito ao domínio político dos gentios. Esse período começou na deportação de Israel para a Babilónia, segundo a revelação do mistério do tempo dos gentios por Daniel, e só irá terminar no fim da grande tribulação, com a vinda do Senhor, que destruirá o domínio dos gentios e os seus líderes (besta e falso profeta). Aí Israel assumirá politicamente as suas funções de cabeça das nações. Terminará o governo do homem (grego I Coríntios 4:3) para dar início ao “governo do Senhor”.

Mas, aqui, neste capítulo, não temos o tropeço e a queda de Israel politicamente, mas espiritualmente. Israel tropeçou espiritualmente na “pedra de tropeço” que é o Senhor Jesus Cristo. E, isso, aconteceu, certamente, na cruz do Calvário. Eles tropeçaram, mas Deus não queria que caíssem… mas, infelizmente, caíram! E, Israel caiu porque insistiu na sua rejeição à mensagem profética, conforme relata Romanos 10, a mensagem da morte e ressurreição do Senhor Jesus, muito bem descrita nas mensagens de Pedro em Atos 2, 3, 4 e 10. Essa queda foi o resultado da rejeição aos enviados do Espírito de Deus: Primeiramente, Israel rejeitou o enviado do Pai – João Baptista, e o matou; depois, rejeitou o verdadeiro enviado, o Senhor Jesus Cristo, e o rejeitaram e mataram; por fim cometeram o pecado contra o Espírito, que não tinha perdão: resistiram ao Espírito Santo (Atos 7:51) e mataram Estevão e certamente centenas ou milhares de outros membros da Igreja de Deus, que eram o verdadeiro remanescente de Israel, os crentes messiânicos de então (Atos 7-8-9). Saulo de Tarso era o líder desta rebelião (I Coríntios 15:9; Gálatas 1:13).

Assim, a queda de Israel aqui referida é a descrição da queda espiritual de Israel como nação. E, sublinho: aqui não está a falar de questões individuais e pessoais, mas coletivamente. Cortar e enxertar nunca teve a ver com o plano da salvação e, muito menos aqui.

Na deportação da Babilónia Israel perdera o domínio politico; agora, Israel perdeu o domínio espiritual e, esse domínio foi transferido para os gentios… daí a descrição cronológica de Atos e a viagem de Paulo ali relatada: começa em Jerusalém e termina em Roma! Israel, agora, beneficia da misericórdia que Deus que estava a ser demonstrada aos gentios (v. 31), e não vice é versa.

Por isso, o corte e o enxerto nada tem a ver com bênçãos terrenas ou promessas politicas e materiais feitas por Deus a Abraão e à sua descendência, mas à posição espiritual que os gentios passavam a ter diante de Deus em relação à preponderância espiritual que os judeus vinham tendo até ali. Por isso é dito que: Primeiramente as “palavras de Deus lhes foram confiadas” (Romanos 3:1-2); mas, agora, as Palavras de Deus foram confiadas aos gentios (Efésios 3:1-4; Colossenses 1:27), e os guardiões da Verdade não são os Judeus, pelo contrário: as suas tradições foram uma negação das Palavras Sagradas (Mateus 15:3 e 6), mas é a Igreja do Deus Vivo, “a coluna e a firmeza da verdade” (I Timóteo 3:14-16).

E, quando será retomada a preponderância espiritual de Israel? Ou seja, quando é que Israel será novamente enxertada na raiz, como nação, no propósito de Deus?

Terceiramente, Israel será retomada porque eles não vão permanecer na sua incredulidade (v. 23), e poderoso é Deus para o enxertar. Além disso, os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento (v. 29).

No entanto, e como já fizemos referência anteriormente, o Israel que será enxertado não é a totalidade de Israel, porque nesta fase já estamos a falar do Israel/Remanescente, conforme Romanos 9:28 (grego: com corte). Por isso, e quando falamos no re-enxerto de Israel, estamos a falar do despertar dos eleitos de Israel no retomar do programa profético, com a chamada dos 144.000 assinalados. Repito: é o enxerto espiritual e não politico! É o retomar da Profecia e do predomínio espiritual de Israel, e não o retomar político de Israel. O texto está a levar-nos a Atos 2-8 e não a II dos Reis 24 ou Daniel 1-2. O texto está a explicar como a Profecia será retomada e Israel será novamente reintegrado nos propósitos de Deus com o cumprimento/termo do programa do Mistério.

Outro facto, e quartãmente, é o que o Apóstolo refere aos gentios – pois ele é o apóstolo dos gentios – e que será determinante para que eles (gentios) sejam cortados e Israel de novo enxertado, conforme descrito no v. 22, que transcrevemos:
«Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado».

Este termo: “Bondade” é a tradução do termo chrestotes, gr. crhstothv, Strong: 5544 de 5543, que está na forma substantiva e significa mesmo bondade, benignidade, tolerância, longanimidade, etc. Este termo é usado por Paulo oito vezes. Em Romanos ocorre 3 vezes. Romanos 2:4 é sugestiva:
«Ou desprezas as riquezas da sua benignidade <5544>, paciência e longanimidade, ignorando que é a bondade de Deus que te leva ao arrependimento?»

É a mensagem da benignidade de Deus que está sendo difundida na presente graça que provoca o ciúme a Israel e o levará ao arrependimento…

Gálatas 5:22 é um dos frutos do Espírito ou manifestações da mensagem da Palavra de Deus hoje:
«Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade <5544>, bondade, fidelidade…»

A bondade é a obra que a Igreja “Corpo de Cristo” irá revelar nos séculos vindouros:
Efésios 2:7 - «Para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em benignidade <5544> para connosco, em Cristo Jesus».

Esta bondade é a característica dos membros do “Corpo de Cristo”, os “eleitos de Deus, santos e amados”:
Colossenses 3:12 - «Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de benignidade <5544>, de humildade, de mansidão, de longanimidade».

A bondade de Deus é a graça e a atitude de Deus no tempo presente em adiar o “dia da ira” e revelar graça ao mundo propondo reconciliação:
Tito 3:4 - «Quando, porém, se manifestou a benignidade <5544> de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos…»

No entanto, os gentios, desde logo ao seu enxerto, começaram a abusar desta benignidade e bondade, e a deturpar as Palavras de Deus. Desde logo abandonaram as suas responsabilidades de guardiões da verdade e entregaram-nas aos demónios, que de imediato substituíram a doutrina de Deus pelas suas doutrinas de demónios – ver o contraste de I a Timóteo 3:15 com 4:1 a 5. Este período terminará com a apostasia da fé (Idem e II a Timóteo 3:1-9) e culminará com a operação do erro para crerem a mentira (II aos Tessalonicenses 2:7-12). E, este ministério, dizia Paulo, já operava em seus dias.

Assim como Israel não permaneceu na fé e foi cortada, também os gentios não permanecerão na fé da bondade de Deus (a salvação pela graça) e, de igual modo, serão cortados… e Deus, retornará a enxertar Israel, novamente.

Este retomar de Israel leva-nos a Apocalipse 7 – os 144.000 assinalados. Israel, nesta altura, ainda não será a cabaça das nações politicamente, pois ainda estará a ser subjugada e dominada pela Besta, o anticristo. Mas, nos propósitos de Deus, a Profecia é retomada e serão os 144.000 assinalados – o remanescente – e os profetas de então, tipo duas testemunhas, que serão os guardiões da verdade.

O texto em referência ainda invoca uma quinta razão para que Israel seja enxertado e diz: o endurecimento de Israel será “Até que a plenitude dos gentios haja entrado”.

Primeiramente: o que é a “plenitude dos gentios”?
Paulo usa doze vezes este termo, e para compreendermos o seu sentido temos de compreender a sua utilização:
Romanos 11:12 - Ora, se a transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude <4138>!
Romanos 11:25 - Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude <4138> dos gentios.
Romanos 13:10 - O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento <4138> da lei é o amor.
Romanos 15:29 - E bem sei que, ao visitar-vos, irei na plenitude <4138> da bênção de Cristo.
1 Coríntios 10:26 - porque do Senhor é a terra e a sua plenitude <4138>.
Gálatas 4:4 - vindo, porém, a plenitude <4138> do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
Efésios 1:10 - de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude <4138> dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra;
Efésios 1:23 - a qual é o seu corpo, a plenitude <4138> daquele que a tudo enche em todas as coisas.
Efésios 3:19 - e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude <4138> de Deus.
Efésios 4:13 - Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude <4138> de Cristo,
Colossenses 1:19 - porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude <4138>
Colossenses 2:9 - porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude <4138> da Divindade.

Ora, este termo, em Paulo, nunca significa ser cheio ou pleno de…, mas “cumprimento” (Romanos 13:10), “completar”, seja o tempo (Gálatas 4:4; Efésios 1:10), seja o número (I Coríntios 10:26), seja a revelação do Mistério (Romanos 15:29). A igreja é o cumprimento dos Planos de Cristo (Efésios 1:23, 3:19, 4:13), assim como em Cristo se cumprem todos os planos de Deus: seja na sua obra (Colossenses 1;19), seja da Sua pessoa (Colossenses 2:9).

Neste capítulo 11 de Romanos temos duas plenitudes: a plenitude de Israel (v. 12) e a plenitude dos gentios (v. 25). A plenitude de Israel será quando todos o remanescente ficar completo e forem todos assinalados (Apocalipse 7). A plenitude dos gentios, pela mesma ordem de ideias, será quando o número dos gentios forem cumpridos.

Notem: esta quinta razão referida pelo Apóstolo para justificar o enxerto de Israel nos propósitos de Deus – ao contrário dos outros – diz ele, é um MISTÉRIO. E, o mistério é o cumprimento dos gentios… ou seja, «haja completado os gentios».

Este momento fará que Israel seja despertado: digo: não a nação, mas, como diz o contexto, será o remanescente. E, isso, é melhor descrito em Apocalipse 7 – o remanescente será assinalado e despertado, mas o restante da nação será endurecida e abraçará o anticristo. E, quando a nação reconhecer o Messias, e chorar os seus pecados, será tarde de mais, conforme é descrito em Mateus 25 – Parábola das virgens, entre muitos outros exemplos encontrados nas Escrituras Sagradas. Outro exemplo foi Esaú, que chorou por ter vendido a sua primogenitura, mas não achou lugar para arrependimento.







sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Atos dos Apóstolos



Compreendendo Atos Dispensacionalmente

O livro de Atos tem sido um problema para conciliar os seus relatos e o período a que correspondem com o “Evangelho da Graça de Deus” e, em especial, com o que o próprio Apóstolo Paulo diz nas epistolas escritas nesse período, designadamente Tessalonicenses, Coríntios, Gálatas e Romanos.

Estes factos têm levado os ensinadores a tomar algumas posições divergentes, designadamente:

A) A Igreja é uma continuidade histórica dos períodos anteriores, desde Génesis;

B) A Igreja começou em Atos 2 e desenvolveu-se a partir daí… Paulo começou a ensinar o Evangelho do Reino e, somente depois é que passou a ensinar a Graça;

C) A Igreja começou com Paulo em Atos 9, 13 ou 15 e assistimos a um período transicional… onde Deus trabalha e ensina para Israel e para a Igreja ao mesmo tempo! Para estes Atos é um livro transicional.

D) Israel é um período intermédio onde Deus dá cumprimento ao Plano de Deus profético de chamar os gentios, com o Evangelho do Reino e, somente depois de Atos 28 é que suspende este programa e começa com o evangelho da Graça de Deus.
a.      Estes são chamados os ultradispensacionalistas.
b.      Ensinam que há dois corpos;
c.       Paulo não ensinou a graça antes! Era Reino!
d.      Não há vinda do Senhor para a Igreja “Corpo de Cristo”; confundem as duas vindas: do mistério e da Profecia

Todos poderão ter ideias interessantes, mas as contradições e a confusão que criam são maiores que as respostas que dão.

Especialmente porque os relatos de Atos não são coincidentes com os relatos que Paulo faz aos mesmos factos nas suas epistolas: Atos tem uma perspetiva judaica; Paulo tem uma perspetiva eclesiástica da graça.

Exemplos:
(1) Gálatas 1:15-17, Paulo diz que, depois da aparição do Senhor no caminho para Damasco, foi para a Arábia, onde esteve 3 anos, e não para Jerusalém. Lucas é omisso quanto a isso no seu escrito de Atos. A descrição que faz em Atos 9 faz entender que Paulo nunca esteve na Arábia e que, depois de convertido e de estar em Damasco pela primeira vez foi a Jerusalém (Atos 9:19-26).
(2) Gálatas 1:18-21 diz que, passados 3 anos, Paulo regressou a Damasco e foi a Jerusalém, onde esteve 15 dias. Lucas diz, simplesmente: "passados muitos dias" (Atos 9:23). Depois disso Paulo foi para as partes da Síria e Cilícia (v. 21; Atos 9:30).
(3) Gálatas 2:1-10 relata os episódios que parecem corresponder a Atos 15, ou seja, 14 anos depois de ter estado em Jerusalém pela primeira vez.
(4) A contenda e separação de Paulo e Barnabé relatada em Atos capítulo 15:36-41 parece corresponder à descrição de Gálatas 2:11-21, onde o Apóstolo desvenda as causas da contenda e separação – desvio de conduta conforme a verdade do Mistério (Atos 15:38 – “Afastara”, gr. “apostanta”, usada em I a Timóteo 4:1 para se referir à “apostasia da fé”). Lendo Atos fica a ideia que se trata de uma questão “pessoal” de Paulo; mas, no sentido do grego e no sentido relatado por Paulo aos Gálatas tinha a ver com a “Verdade do Evangelho” (2:14; ver: 2:5).
(5) A divergência no relevo que é dado por cada um dos autores é acentuada ainda mais na referência que é dada à carta que os Apóstolos de Israel e os Presbíteros da Igreja de Jerusalém resolveram enviar às igrejas dos gentios: Lendo Atos, vemos que o teor da carta versava sobre questões cerimoniais, como a contaminação moral e religiosa; no entanto, a enfase que Paulo faz na sua Epístola aos Gálatas, a referência que faz é estritamente moral: “que nos lembrássemos dos pobres…” (Gálatas 2:10).
(6) A referência às perseguições de Paulo na sua 2.ª viagem apostólica, em Filipos e em Tessalónica, narradas por Lucas em Atos 16 a 18, e correspondem ainda à descrição feita em I Tessalonicenses 2:1-2 e 3:1-8.
(7) A estadia de Paulo em Éfeso (Atos 19), as dificuldades que lá passou (I Coríntios 15:32; II Timóteo 1:18), e o tempo que lá passou (Atos 19:10; conforme 20:31 e I Coríntios 16:8) foram de novo referidas por Paulo nas suas epístolas nos textos citados.
(8) As referências feitas por Paulo a Apolo, na primeira epístola aos Coríntios 1:12, 3:4-6, 22; 4:6; 16:12, enquadra-se na descrição feita por Lucas em Atos 18:24-19:1, período correspondente à segunda viagem apostólica de Paulo.
(9) A coleta das Igrejas da Macedónia e Acaia feita para os pobres da Judeia, referida em I Coríntios 16:1-9 e II Coríntios 8 e 9, bem como em Romanos 15:23-33, que se localiza no fim da terceira viagem apostólica de Paulo, quando se dirigiu a Jerusalém e foi preso.
(10) A referência feita por Paulo na epístola aos Romanos, capítulo 15:23-24, à sua ida a Roma e Espanha, que se enquadra com o que Lucas escreveu em Atos 23:11.
(11) Outra questão intrigante é a que encontramos em Atos 28:21 e 22: Parece descrever Paulo preocupado com a posição dos judeus a seu respeito e do seu ministério; e, para surpresa de todos, parece que não conheciam Paulo e nada tinham recebido dos Judeus de Jerusalém qualquer demanda acerca de Paulo. Eles somente ouviam da “seita”… Também parece estar sozinho ou num grupo restrito, limitado àqueles que o acompanharam na viajem. Por outro lado, quando lemos Romanos 16 temos uma descrição enorme de crentes em Roma e, muitos deles, judeus! Onde estariam eles? A Roma de Romanos 16 parece não ter nada a ver com a Roma de Atos 28!

Mesmo assim, encontramos algumas dificuldades em corresponder alguns relatos de Paulo e Lucas, quer pelo conteúdo, quer pelo tempo: (1) I Coríntios 9:6 Paulo faz referência Barnabé. Parece estranho essa referência, uma vez que, Barnabé nunca foi companheiro de Paulo nas suas viagens a Corinto. E, como Lucas é omisso em muitos relatos da vida de Paulo, leva-nos a perguntar se houve alguma deslocação de Paulo àquelas regiões antes da separação deles em Atos 15:36-41? E, onde é que os Coríntios conheceram a Barnabé se ele nunca lá estivera com Paulo?
(2) II Coríntios 12:2 relata a experiência de Paulo em ser arrebatado ao Paraíso, há catorze anos atrás. Por causa dessa experiência é dito que ele recebeu um espinho na carne (12:7-8). Tem-se feito a correspondência daquele espinho com a sua limitação física ao nível da visão (II Coríntios 12:1-10; Gálatas 4:13-15; 6:11). O relato dessa experiência parece corresponder com o momento que o Senhor apareceu a Saulo no caminho de Damasco, descrito em Atos 9:8-19. No entanto, diz o Apóstolo: "à catorze anos" (II Coríntios 12:2). Se aceitarmos como definitiva a data da epístola fixada pelos historiadores em 54 AD, então aquela experiência terá de ser datada de 40 AD. Nessa altura Paulo estava em Antioquia ou na sua 1.ª viagem apostólica. Por isso, alguns datam essa experiência de Paulo na altura em que, na primeira viagem apostólica, em Listra, Paulo foi apedrejado e dado como morto (Atos 14:19). No entanto, tudo isso não passa de especulação. E, se Paulo não localiza pontualmente a localização dessa experiência é porque não era importante… e sim o seu conteúdo.
(3) Outro facto que tem alguma controvérsia histórica é a prisão de Paulo em Roma, conforme descrito em Atos 28. A generalidade dos historiadores considera que, passados os dois anos em que esteve preso em Roma (de onde escreveu Efésios, Filipenses, Colossenses e Filémon), Paulo foi libertado e foi a Espanha (como era sua intenção, conforme escreveu em Romanos 15:23-24), percorreu as regiões de Creta, Colossos, Macedónia, Corinto, Nicópolis, Dalmácia e Troas (conforme relatos dessas localidades em Tito 1:5; II Timóteo 4:10-13, 19-20). Depois, segundo esses relatores, terá voltado a Roma, terá sido preso e decapitado por mandato de Nero, em 68 AD. Neste período terá escrito as epístolas a Timóteo, Tito e Hebreus. Esta posição tem a ver com o facto de Lucas ser omisso em relação a esses percursos do Apóstolo. No entanto, para muitos outros aquela posição é pouco provável. Estes, acham que Paulo teve uma liberdade condicional, nos dois anos referidos em Atos 28:30-31, onde teve um ministério limitado e nunca terá saído de Roma. Neste período terá - se tanto - ido a Espanha e feito uma ou outra curta viagem, mas sempre tendo como sede do seu derradeiro ministério Roma. Neste período de dois anos veio a ser julgado e condenado a pena capital por Nero, por decapitação. Para apoiar esta posição estão os factos de:
(A) Lucas ser omisso em muitos relatos da vida de Paulo, e estes seriam mais uns deles – especialmente os relatos de II Coríntios 6:4-10 e 11:22-33, e isto aconteceu antes de Atos 20, quando escreveu aquela epístola;
(B) Paulo diz que deixou Trófimo doente em Mileto (II Timóteo 4:20), o que parece ser coincidente com a sua passagem por aquela terra, na sua terceira viagem apostólica, de acordo com a descrição de Atos 20:15-17; Não parece muito razoável que Paulo percorresse toda a Ásia menor em 2 ou 3 anos depois de Atos 28.
(C) Tiquico, o companheiro de Paulo (Atos 20:4), e que o acompanhou até Roma, foi o emissário para levar as epístolas prisionais aos Efésios (6:21), Colossenses (4:7) e provavelmente Filipenses e Filémon. Foi, por isso, enviado por Paulo a Éfeso. II Timóteo 4:12 também diz que Paulo enviou-o a Éfeso, o que parece ser coincidente. E, depois disso, nesta mesma viagem, terá passado por Creta a ter com Tito (Tito 3:12).
(D) Outro facto que corre a favor desta posição é a Idade do Apóstolo Paulo. A data do nascimento de Saulo de Tarso é apontada como tendo sido a 2 AD. Isto quer dizer que, quando ele chegou a Roma teria entre 60 a 65 anos. Considerando a vida de Paulo, as suas experiências, tribulações, perseguições, viagens, entre outras coisas, que são verdadeiramente desgastantes para uma pessoa, acrescido das precárias condições de vida que existiam na altura, Paulo estaria bastante desgastado (I Coríntios 6:4-10; 11:22-33). De Roma ele referiu-se a si próprio como "Paulo, o velho" (Filémon 1:9). Parece impensável que Paulo ainda percorresse grande parte da Europa do Sul, toda a Ásia menor e, ainda, voltasse a Roma para morrer!

Conclusão: O Livro de Atos dos Apóstolos não é uma carta doutrinária, mas um documentário dos relatos das virtudes e das fraquezas da Igreja no primeiro século. Por isso, não é em Atos dos Apóstolos que devemos buscar o modelo de conduta para as nossas vidas, mas nas epístolas de Paulo. E, em caso de "suposta" divergência na narrativa dos factos históricos, ou mesmo omissões, a base para a compreensão da verdade de Deus são as epístolas do Apóstolo Paulo. Elas é que contêm a revelação da nossa regra de fé.

O Livro dos Atos dos Apóstolos descreve a suspensão do programa profético e da Profecia (com a introdução da Dispensação do Mistério) e o início do programa do Mistério: (1) primeiramente relata a demonstração da graça de Deus em salvar Saulo de Tarso; (2) depois, relata a forma como Deus fez a revelação deste novo programa, i.e., relata a revelação do que Deus estava a fazer e como estava a fazer; (3) por fim, relata a reação das igrejas a esta mudança operada por Deus, ou seja, a reação das igrejas à nova mensagem e propósitos de Deus: primeiramente das igrejas dos Judeus (crentes do Reino) e das igrejas dos gentios (depois de implantadas por Paulo na base da graça), como muitas delas abandonaram os ensinos de Paulo.

Para melhorar esta discussão, chamamos ao debate, sem quaisquer preconceitos, mas reconhecendo em todos estes que professam uma fé incondicional na Palavra de Deus, especialmente no plano que Deus concebeu para salvação de todo o homem na base da Sua graça, como tendo direito à sua opinião, especialmente porque no presente tempo não há ninguém que possa invocar ter qualquer dom espiritual de ciência ou de revelação. Por isso, vejamos alguns pontos invocados por estas opiniões:
1. Todos que escreveram uma epístola durante o período de Atos sempre se referiam a esse período de tempo como os "últimos dias" ou "tempos do fim".
        a. Aqui incluem também Paulo e algumas das suas epístolas, designadamente I aos Coríntios                    10:11; Gálatas 4:4; I Timóteo 4:1; II Timóteo 3:1…
2. Em segundo lugar, considere este facto: Todos que escreveram epístolas durante o período de Atos esperavam a Segunda Vinda de Cristo.

3.      Em terceiro lugar, considere estes factos:
A primeira e a segunda metade do livro de Atos são idênticas. Se uma transição tivesse tido lugar durante o livro de Atos, então certamente o fim do livro de Atos deveria ser diferente do início. Mas o fim é idêntico ao início o que significa que nenhuma transição ou mudança ocorreu durante o período de Atos.
Comparemos os seguintes temas e versículos:
Nesta comparação a letra A refere-se à primeira parte de Atos, i. e. capítulos 1 a 14. A letra B refere-se à última metade de Atos, ou seja, capítulos 15 a 28.
(1) O Reino de Deus foi pregada durante o período de Atos
A. Atos 1:3, 8:12, 14:22
B. Atos 19:8, 20:25, 28:23, 28:31

(2) Toda doutrina baseava-se em Moisés e aos profetas durante o período de Atos.
A. Atos 2:14-36 e 3:19-24 e 7:2-60 e 13:15-42
B. Atos 26:22-23 e 28:23, 17:1-2

(3) Os Dias Festa foram observados durante o período de Atos
A. Atos 2:1
B. Atos 20:16, 18:21

(4) O Batismo nas águas foi praticado durante todo o período de Atos
A. Atos 2:41, 8:12, 8:38, 9:18, 10:48
B. Atos 16:15, 16:33, 18:08, 19:5

(5) Os doentes foram curados durante todo o período de Atos
A. Atos 3:7, 5:15, 8:7.
B. Atos 19:11-12, 28:8

(6) Os mortos foram ressuscitados durante todo o período Atos
A. Atos 9:37-40
B. Atos 20:9-11

(7) Esperança de Israel foi proclamada em todo o período de Atos (Esperança de Israel era a esperança da ressurreição que Cristo tinha prometido a Israel em Mateus: 24:29-31; João 5:25-29, 11:25-26).
A. Atos 4:1-2, Atos 13:32-37
B. Atos 28:20, 26:6-8

(8) Primeiro o judeu durante o período de Atos
A. Atos 1:8, 3:26, 11:19, 13:46
B. Atos 17:1-2, 18:4, 18:19, 19:8, 28:17

(9) Línguas foi praticado durante o período de Atos
A. Atos 2:4
B. I Coríntios. 14:18 (I Coríntios foi escrito em Atos 19, compare I Cor. 16: 8 - Atos 19:1-10)

(10) Salvação de Israel foi o motivo principal da pregação de todos durante o período de Atos.
A. Atos 3:25-26; Atos 2:22-36
B. Romanos 10: 1; 11:12-15 (Romanos era epístola de Paulo; Atos escrito pela última vez no final do período de Atos.)

(11) Os Demónios e espíritos imundos foram expulsos ao longo do período de Atos.
A.      Atos 8:07
B.      Atos 16:16-18, 19:12

(12) Ofertas foram levados para Israel durante o período de Atos
A. Atos 11:29
B. I Coríntios 16:1-5 (escrito em Atos 19) e Romanos 15: 26 (Escrito fim de Atos)

(13) O Espírito Santo foi recebido pela imposição das mãos durante o período de Atos:
A. Atos 8:17; 9:17
B. Atos 19:6

(14) Os homens foram ordenados a arrepender-se durante todo o período Atos
A. Atos 2:38
B. Atos 26:20; 17:30; 20:21

(15) Deus deu visões aos homens durante todo o período Atos
A. Atos 9:12, 10: 17
B. Atos 16:9-10, 18:17

(16) Os homens foram ordenados a fazer obras de justiça durante o período de Atos
A. Atos 10:35
B. Atos 26:20

(17) Julgamento imediato foi dispensado durante o período de Atos
A. Atos 5:1-11
B. 1 Coríntios. 5:1-5, 1 Coríntios. 11:30 (escrito em Atos 19)

(18) A Segunda Vinda de Cristo foi proclamada durante todo o período Atos
A. Atos 1:11;
B. I aos Tessalonicenses 1:10 (Atos 17); I aos Coríntios 1:6-8 (Atos 18-19); Romanos 16:20 (fim de Atos)

(19) Jesus foi pregado como o Messias de Israel durante o período de Atos
A. Atos 2:36-37 e 8:5, 9:19-22
B. Atos 17:3, 28:23

(20) A Lei foi observada durante o período de Atos
A. Mateus 5:18-19; Mateus 23:1-3 (Estes versos são dirigidos aos 12 Apóstolos de Israel e foram obedecidas em todo os Atos).
B. Atos 21:20, Atos 21:24

(21) Anjos ministraram aos crentes de todo o período de Atos.
A. Atos 5:19, 8:26, 12:7-9
B. Atos 27:23

Aqui estão as 21 principais referências a doutrinas e práticas que permaneceram ao longo do período Atos. Os crentes criam e praticavam no final do período de Atos com o mesmo zelo como foi demonstrado no início do período de Atos.

Além disso, por favor considere estes factos… dentro da mesma linha de pensamento:
Na última metade do livro de Atos você encontrará doutrinas e práticas judaicas como são encontradas na primeira metade:
(1) Em Atos 16:1-3 Paulo circuncidada a Timóteo…
(2) Em Atos 21:22-24 Paulo raspou a cabeça e fez um voto judaico….
(3) Em Atos 21:26 Paulo ofereceu um sacrifício para sua purificação…
(4) Em Atos 28:3-6 Paulo saiu ileso da picada de uma serpente venenosa (ver Marcos 16:18).

Além disso, por favor considere as doutrinas e práticas judaicas encontradas no último capítulo de Atos.
Em Atos 28:17 Paulo ainda vai primeiro ao judeu.
Em Atos 28:8-9 Paulo ainda cura os doentes e as doenças.
Em Atos 28:3-6 Paulo sai ileso da mordidela de uma serpente (ver Marcos 16:18)
Em Atos 28:20 Paulo ainda está pregando a esperança de Israel.
Em Atos 28:23 Paulo ainda está pregando o Reino de Deus.
Em Atos 28:23 Paulo ainda baseia a sua pregação em Moisés e nos profetas.
Em Atos 28:23 Paulo ainda declara que Jesus é o Messias de Israel.


No entanto, há verdades incontestáveis nos escritos de Paulo, relatadas nas suas epistolas escritas neste período, e que são contraditórias com os seus discursos relatados em Atos, designadamente:
Todas estas verdades do mistério (concebidas antes da fundação do mundo) estão em contraste com o que foi dito pelos profetas desde o princípio e da fundação do mundo, e com os ensinos do reino (Romanos 15:8; Atos 3:21-24). Não há dúvida que aqueles que defendem a posição de Atos 28 ou de um período transicional em Atos ao ler estas e muitas outras passagens, ficam à deriva sem qualquer fundamentação. Mas a resposta para eles resulta na identificação do segredo do evangelho, e das verdades específicas dispensacionalistas que s e encontram exclusivamente nas epístolas do Apóstolo Paulo.

As Epístolas da Prisão
Para além destas alusões evidentes da "sabedoria oculta" nas epístolas de Atos, ou seja, escritas durante o período de Atos, não podemos fingir que tudo o que foi falado nas epístolas da prisão foi uma nova informação ou revelação.
Na verdade, Paulo fala de "visões e revelações", para que nós aprendamos as verdades do seu ministério, tanto no princípio do seu ministério como no fim dele (II Coríntios 5:1, I Coríntios 13:12; Atos 26:16).
Além disso, toda esta informação foi comunicada por revelações a Paulo, durante um determinado período, e não há divergência ou contradições nelas: seja no início do seu ministério seja no fim dele. As epistolas de Paulo escritas na prisão tem uma linguagem tão transparente e uma mensagem tão clara como a linguagem das epístolas do período de Atos. E, todas as verdades anteriormente referidas podem ser encontradas nos ensinos das suas epístolas prisionais, também. Sendo certo que as primeiras têm um caracter mais local, particular e circunstancial e as epistolas da prisão são mais doutrinárias e gerais.

Filipenses
Por exemplo, Paulo agradece a Deus da lembrança dos filipenses pela “sua cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora" (Filipenses 1:5). Esta referência é esclarecedora porque sabemos que Paulo estava escrevendo da prisão de Roma aos filipenses sobre a contribuição daqueles que foram chamados ao evangelho aquando da sua visita a Filipos, durante o período de Atos! (Atos 16:12; 20:6).
As referências sucintas doutrinárias feitas na sua epistola aos Filipenses, como seja a transformação do nosso corpo para ser conforme o corpo glorioso do Senhor Jesus Cristo na Sua vinda é sinal de que eles estavam inteirados do assunto que teriam ouvido de Paulo na sua estadia naquela cidade. O mesmo se diga deste mesmo tema como o escreveu aos Coríntios, (I Coríntios 15), e que só lhes poderia ter ensinado na sua estadia em Coríntios, como o descrito em Atos 19.

Efésios
Da mesma forma os Efésios, a quem Paulo escreve da prisão depois de Atos 28. Paulo diz que eles foram selados com o Espírito, o Santo, da promessa, depois que ouviram a palavra da verdade… (Efésios 1:13). E, quando é que eles tomaram conhecimento do evangelho? Certamente que antes de Atos 28, e mesmo antes de Atos 20:24, pela pregação do evangelho da graça de Deus, exclusivo para a "dispensação da graça".
«Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus».
Os dons de edificação referidos em Efésios 4:11-13 parece corresponder perfeitamente com os dons de edificação relatados por Paulo em I Coríntios 12:27 ou Romanos 12:5:
«Assim nós, sendo muitos, formamos um só corpo em Cristo, e membros uns dos outros»

Timóteo
Além do considerado, na primeira carta de Paulo a Timóteo, ele relembra o seu filho na fé do motivo pelo qual ele foi deixado em Éfeso:
«Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinem outra doutrina…» (1:3)
Então, no momento em que Paulo escreveu a Timóteo, há um corpo de doutrina que Timóteo tinha de proteger, em Éfeso. Foi por essa razão que Paulo o enviou lá! Seria impensável Timóteo ir repreender alguns para não ensinarem "outra doutrina", se ele não tivesse conhecimento da doutrina, em primeiro lugar.
Na verdade, Timóteo sabia qual a doutrina que Paulo se referia. Tanto os efésios como Timóteo, que tinham sido ministrados por Paulo tinham total conhecimento da sua doutrina para esta dispensação, que lhe fora revelada de forma especial pelo Senhor glorificado e da glória, mesmo antes de Atos 28 (Gálatas 1:11-12).

Nada de Novo, as coisas falsas
Reduzir a verdade do "mistério" revelado a Paulo exclusivamente às epístolas da prisão é fazer uma distinção que não existe em nenhuma das suas epístolas. A única base para uma distinção vem do livro de Atos.
No entanto, devemos lembrar que não é o propósito da epístola dos Atos expor o que Paulo ensinou. Em vez disso, o seu objetivo claro é para mostrar a queda de Israel e a forma como eles iriam reagir à nova mensagem: para ficarem inexcusáveis (I aos Tessalonicenses 2:13-16) e a “ira de Deus cairá sobre eles até ao fim”, conforme melhor descrito em II aos Tessalonicense 2: «Deus lhes enviará a operação do erro para que creiam na mentira… todos os que não creram na verdade…» (v. 11) de Deus para se salvarem. Em Atos encontramos a rejeição contínua dos Judeus à mensagem de Pedro, de Estevão, no geral, do Espírito Santo e, finalmente, de Paulo.
Pode-se concluir que, embora haja semelhanças entre as divisões de início de Atos, ou meados de Atos e a posição de Atos 28, as suas diferenças têm implicações maiores do que se pode imaginar.
A posição de início de Atos coloca-nos debaixo da Lei; Mas, a posição de Atos 28 rouba-nos as verdades preciosas da graça de Deus que são encontradas especialmente nas epístolas de Paulo escritas nas prisões anteriores à sua chagada a Roma. No entanto, ainda mais prejudicial é a forma como ela enfraquece a defesa do apostolado especial e mensagem de Paulo para com aqueles que não veem nenhuma diferença entre as doutrinas de Paulo com a doutrina dos doze em Pentecostes!
O que é verdade sobre a posição de Atos 28 não é nova, e o que é novo nessa posição doutrinária sobre vários ensinos da Igreja é que, é verdade que nada de novo aconteceu em Atos 28, mas muitas coisas terminaram.


COMO ENTENDER ATOS, ENTÃO? ONDE O ENQUADRAR?
Não temos uma resposta clara e concludente, porque não a encontramos assim nos autores sagrados das escrituras, mas poderemos deduzis pelas suas palavras e procedimentos. Especialmente na linguagem de Paulo e nos testemunhos de Pedro e de João.

1.      Primeiramente, teremos de enquadrar a Epístola de Atos no contexto escriturístico, especialmente da Profecia:
a.      De facto, os dias vividos no Pentecostes, estavam claramente revelados na Profecia e diziam respeito a Israel: Pedro dá testemunho disso no seu discurso no dia do Pentecostes, dizendo que se cumpriam profecias, designadamente de Joel (Atos 2:16…);
b.      Outra das profecias que se estavam a cumprir era de Daniel 9, conhecida como os 70 sétimos de Daniel, onde o Senhor determina 490 anos para completar a Profecia com a restauração do Trono de Davi e regeneração da Terra com o estabelecimento do reino messiânico na vinda do Senhor para reinar (vinda profética, que não deve ser confundida com a vinda segundo o Mistério!).
                                                              i.      Segundo esta profecia o Messias morreria no fim do 69º Sétimo de anos, ou seja, 483 anos antes do restabelecimento do Reino.
                                                             ii.      Isso significa que de imediato se seguiria o último sétimo de anos, ou seja, se seguiriam os últimos sete anos, que seriam caracterizados pelos dias da grande tribulação, os dias da ira de Deus.
                                                           iii.      Disso deu testemunho Pedro no seu discurso no Pentecostes, conforme relatos do profeta Joel (Atos 2:20).
                                                           iv.      Por isso, estava-se a viver os primeiros dias da grande tribulação.
c.       Quando foram suspensos esses dias de tribulação?
                                                              i.      Paulo indica que terá sido no aparecimento do Senhor glorificado (Cristo da glória, já como cabeça da Igreja “Corpo de Cristo”), conforme II a Timóteo 1:10-11);
                                                             ii.      E fala da Sua conversão a primeira de uma série (assim no grego) e como uma manifestação da graça de Deus, para exemplo dos que haveriam de crer no Senhor depois dele (I a Timóteo 1:11-16);
                                                           iii.      Paulo fala ainda do aparecimento do Senhor a ele como a “um abortivo” (I Coríntios 15:8), ou seja, fora do tempo. Sendo o que é designado de “tempo e estações” (I Tessalonicenses 5:1) as coisas referentes à Profecia, ao mundo e ao reino messiânico, o que não estava na Profecia era mistério (a Igreja “Corpo de Cristo”) e, por isso, nesse mesmo contexto, o aparecimento do Senhor a Saulo de Tarso fora da Profecia e, por isso, no período do Mistério da revelação da graça de Deus.
                                                           iv.      Então, segundo Paulo, o momento da viragem será localizado em Atos 9, quando o Senhor começa com uma atitude diferente – ira para a graça / guerra para a paz, tema de todas as epístolas de Paulo: graça e paz.
                                                             v.      A partir desse momento a Profecia é suspensa e o programa messiânico é parado temporariamente até ao momento em que o número dos gentios é completado e o endurecimento de Israel (remanescente) terminar (Romanos 11:25).
                                                           vi.      Além disso, e segundo a revelação de João, ainda estão 7 anos da profecia para se cumprir até à vinda do Senhor Jesus Cristo, segundo a Profecia…
1.      Então, o tempo decorrido do discurso de Pedro em Atos 2 até ao aparecimento do Senhor glorificado a Saulo de Tarso não poderá ser mais que uns meses… pois a última “semana de anos” da Profecia ficou suspensa no seu início.
2.      Por isso, também, as explicações que dão da destruição de Jerusalém no ano 70 pelos exércitos de Tito como cumprimento da Profecia, especialmente das descrições feitas pelo Senhor em Mateus 24, não fazem sentido, pois 7 anos não são 70… e se o cumprimento fora no ano 70, então Apocalipse já tinha sido cumprido… antes, até, de ter sido escrito!!! Não faz sentido nem se enquadra com o revelado nas Escrituras cronológicas.
      2.      Assim, a partir de Atos 9 há uma nova dispensação ou um novo programa de Deus para o mundo, mas não quer dizer que a Igreja messiânica recebera de boamente essa mudança; os relatos de Atos indicam que os crentes messiânicos sempre se mantiveram agarrados à lei e opuseram sempre às “novas” doutrinas da graça e ao facto de Deus estar a salvar os gentios ou a estar a usar os gentios como os guardiões da verdade – “as colunas e a firmeza da verdade” (I a Timóteo 3:14-16).
a.      No entanto, quando ouvimos e lemos Paulo, ele fala da suspensão da Profecia como se fosse por um período reduzido e que a vinda do Senhor para a Igreja “Corpo de Cristo”, da qual ele fazia parte, seria ainda em seus dias. Assim I Coríntios 15:50…: “nós… nós… nós…”. Ele passa da terceira pessoa do plural: “eles” (da ressurreição da Profecia) para a primeira pessoa do plural: “nós”, da ressurreição da revelação do mistério: «Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados… e nós seremos transformados…». E, também I aos Tessalonicenses 4:17 – «depois, nós, os vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares…»
b.      Isto pode indicar que neste período houvesse alguma tolerância para com os crentes messiânicos e que ainda esperavam a vinda do Senhor no quadro da Profecia e restabelecesse o reino em Israel (Atos 1:6-8). De facto, eles foram salvos pela fé da Profecia e Reino e a sua esperança era exatamente no cumprimento das promessas de Deus a Israel. Eles não podiam transitar para a graça nem poderiam passar a pertencer ao “Corpo de Cristo”, pois são realidades totalmente diferentes.
c.       Isso explica muito do comportamento de Paulo em Jerusalém, ou entre os judeus messiânicos, quando entre nas celebrações das festas (Atos 20:6, 16; com 21:26; I Coríntios 16:8), especialmente relatado em Atos por Lucas e nunca referido nas epístolas de Paulo!
      3.   Paulo fala, ainda, de “visões e revelações” (II Coríntios 12:1) e de novas manifestações do Senhor (Atos 26:16). Isto poderá indicar que as revelações das verdades do Mistério foram progressivas. Ele fala de “conhecer em parte” em I aos Coríntios 13… e que, quando chegasse ao conhecimento pleno muitas das manifestações sobrenaturais cessariam, designadamente os dons. Paulo fala, também, que espera chegar a Roma com “a plenitude da bênção do evangelho” (Romanos 15:29), ou a “totalidade da revelação”. E, sabemos que, realmente, depois de chegar a Roma os seus escritos foram mais objetivamente doutrinários.
a.      Então, o período dos relatos da epístola de Atos foi caracterizado por um conhecimento “em parte” e o que se vivia nesses dias não era censurado pelos lideres das igrejas…
b.      No entanto, e ao que se refere aos escritos de Paulo, eles já relatavam as verdades da graça de Deus e eram objetivamente destinadas aos membros da Igreja “Corpo de Cristo”.
                                                              i.      Mesmo assim, abordavam alguns temas que tinham a ver com os judeus e com a integração dos judeus messiânicos no seio das igrejas locais, que por vezes causavam algumas controvérsias, designadamente I aos Coríntios em que parece haver alguma “compreensão”; já Colossenses e Timóteo (depois de Atos 28, com a revelação completa) passa a “cortar” radicalmente com os judeus contenciosos.
                                                             ii.      E, mesmo antes de Atos 28, na circunstância em que a revelação não estava fechada, nas epistolas de Paulo ele recomendava sempre aos crentes judeus fazerem a mudança, enquanto estava suspensa a Profecia: esse o sentido de Romanos 12:1-2; Colossenses 3:1-4.
     4.      “Atos” é uma epistola escrita por Lucas (nome grego) que se crê tratar-se de um judeu chamado “Lúcios” (Atos 13:1; Romanos 16:21), companheiro de Paulo desde meados d seu ministério. Como Judeu que era dava uma perspetiva judaica da vida e ministério de Paulo, com vista ao período de Israel após o termo da dispensação da Graça e no reatamento do programa profético. Nesta perspetiva temos o testemunho de Pedro na sua II epístola, 3:15-16, quando escreve aos judeus dispersos: “E tende por salvação a longanimidade de Deus conforme o amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada (por revelação)”


CONCLUSÃO
Assim, e a título de conclusão, Atos, à semelhança do Evangelho de Lucas, é um escrito de um judeu para os judeus, numa visão judaica dos últimos momentos da história de Israel com a vinda do Senhor para Israel, em forma humana simples, sua morte, e permanente rejeição e revolta da nação que os mergulhou numa nova fase de “trevas” espirituais que a nação atravessa até que o “Sol da Justiça”, o Senhor Jesus Cristo apareça e salve a nação da destruição do mundo e das mãos do seu líder na altura que será o anticristo. Muito provavelmente terá o seu cumprimento e o seu melhor aproveitamento para os crentes messiânicos da grande tribulação. Atos não é um escrito acerca da Igreja “Corpo de Cristo” nem foi escrito para ela. Também não tem qualquer doutrina da revelação do Mistério, nem foi escrito para o tornar conhecido. A revelação do Mistério não foi revelada a Lucas, mas a Paulo e é nos seus escritos que encontramos tudo e o que é necessário para a Igreja “Corpo de Cristo”. E, sendo escritos de uma revelação superior, por ser celestial e primária (antes da fundação do mundo), servirá de influência em muitos aspetos na vivência prática da profecia no futuro, conforme Pedro recomenda, e Atos é um exemplo da demonstração disso… o que será no futuro com o reatamento da Profecia!

Querer aplicar Atos à Igreja Corpo de Cristo, ou pretender dar continuidade a Atos nos dias de hoje é dos maiores erros espirituais que poderemos cometer, pois, além de Deus ter tornado isso impossível, pois Ele retirou a manifestação dos dons espirituais, é um modelo de vida inferior ao que Deus tem planeado para a Sua Igreja, que é celestial e gloriosa, e o seu modelo de vida assenta na Graça de Deus.
«1 Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. 2 Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra; 3 porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus» (Colossenses 3).


VP